sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Pareço contigo
Normal e do avesso
Vamos seguir o caminho seguro
Pra continuarmos assim no futuro

Pareço contigo
Sem mais nem porquê
Vamos seguir nossas pistas
Com toda a incerteza
Pra continuarmos felizes à mesa

Eu dou um valor absurdo na vida
Ela me traz bem mais que alegria
Traz alguém pro meu sozinho
Você às seis e trinta

Pareço contigo
De olhos fechados
Vamos seguir no escuro
Sonhando acordados
Pra nunca deixar nossa luz se apagar

A gente se parece tanto
A gente está só começando
A gente vai se conhecendo
E vê que ainda não sabe nada
A gente só quer ser feliz
Um mundo mais equilibrado
A gente esquece que o amor
É tudo e não nos cobra nada

Eu dou um valor absurdo na vida
Ela me traz bem mais que alegria
Traz alguém pro meu sozinho
Você às seis e trinta

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Não concluo nada

"Você acha mesmo a minha tosse intolerável? Eu estava dizendo, o que é mesmo que eu estava dizendo? Ah: sabe, entre duas pessoas essas coisas sempre devem ser ditas, o fato de você achar minha tosse intolerável, por exemplo, eu poderia me aprofundar nisso e concluir que você não gosta de mim o suficiente, porque se você gostasse, gostaria também da minha tosse, dos meus dentes escuros, mas não aprofundando não concluo nada, fico só querendo te dizer de como eu te esperava quando a gente marcava qualquer coisa, de como eu olhava o relógio e andava de lá pra cá sem pensar definidamente e nada, mas não, não é isso, eu ainda queria chegar mais perto daquilo que está lá no centro e que um diadestes eu descobri existindo, porque eu nem supunha que existisse, acho que foi o fato de pensar em você partir que me fez descobrir tantas coisas"

Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O que eu odeio em você


Eu odeio todos os lábios que te beijaram antes de mim
Odeio todos os lençóis que tiveram o seu suor misturado com outros que não o meu
Odeio os sorrisos que outras te arrancaram
Odeio saber que você não foi somente meu a vida inteira
Odeio imaginar que você já amou alguém e que deveriam ter uma música só dos dois,
e mais um monte de outras coisinhas tolas de namorado
Odeio todas as mãos que se entrelaçaram às suas,
e todas as histórias de amor que você viveu das quais eu não era protagonista
Odeio todos os lugares que você frequentou com outras garotas,
e todos os perfumes que elas usavam
Eu sei que é besteira minha, que tudo é passado,
mas eu odeio mesmo assim.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

"Se quiser eu piro, e imagino ele de capa de gabardine, chapéu molhado, barba de dois dias, cigarro no canto da boca, bem noir. Mas isso é filme, ele não. Ele é de um jeito que ainda não sei, porque nem vi. Vai olhar direto para mim. Ele vai sentar na minha mesa, me olhar no olho, pegar na minha mão, encostar seu joelho quente na minha coxa fria e dizer: vem comigo. É por ele que eu venho aqui, boy, quase toda noite. Não por você, por outros como você. Pra ele, me guardo. Ria de mim, mas estou aqui parada, bêbada, pateta e ridícula, só porque no meio desse lixo todo procuro o verdadeiro amor. Cuidado comigo: um dia encontro."

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Quando te vi

"Daquela caverna sombria a qual observava tudo contra a luz
Via-te flutuar pelo salão principal, deslumbrante e belo.
Ignorando as luzes ofuscantes, via apenas seus olhos brilhando,
no escuro opaco, reluzente luas prateadas em noites de euforia
Seu sorriso derreteu satélites e coração gelado"

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Nascem jardins em minha face

Poderia falar de quando te vi pela primeira vez... sem jeito, de repente te vi assim, como se não fosse ver nunca mais e seria bom que eu não tivesse visto nunca mais, porque de repente vi outra vez e outra e outra, e enquanto eu te via nascia um jardim nas minhas faces. E eu que me resignei tanto, agora quase já não me importo de ser vulgar, não me importa o lugar-comum, dizer o que outros já disseram. Já não tenho mais nada a resguardar.

Adaptado de Caio Abreu.

sábado, 8 de agosto de 2009

Inteligência emocional


Um dos erros mais comuns quando se gosta de alguém é concentrarmo-nos demasiado nessa pessoa. Mas porque é que isso será um erro? Não será até desejável?

Tal como em tudo na vida, é necessário conta, peso e medida.
Quando nos concentramos demasiado numa pessoa descuramos aspectos importantes da nossa própria vida, pelo que a longo prazo deixamos de a viver.

Isso põe em perigo a própria relação por três razões:

1 – Sufocamos o outro.
Muitas pessoas são carentes e sufocam o outro com exigências em termos de amor, atenção e afeto. Isso é contraproducente porque se há coisas que não se podem sequer pedir (muito menos mendigar) é amor, atenção e afeto: acho que ninguém mentalmente são quer qualquer uma destas coisas se for obtida por coerção (por chorinho, chantagem emocional, etc…). Para terem valor estas coisas têm que ser cedidas naturalmente (sem esforço e com profundo prazer por parte de quem as oferece) e portanto, se não estamos satisfeitos com o montante de amor, atenção e afeto que recebemos, a única forma que temos de alterar essa situação é pela positiva, dando-nos (sem pensar em receber) e sendo dignos da relação ou contentando-nos com menos: se mesmo assim a coisa não resultar, então é porque a relação não tem pernas para andar ou porque queremos demais…
Aliás, quem é incapaz de entender isso e continua na sua senda de exigências a este nível, por muito amor que exista, acaba por provocar o fim da relação porque ninguém mentalmente equilibrado pode aceitar que a felicidade de alguém dependa inteiramente de si (é um fardo demasiado pesado) e, por outro lado, exigências constantes provam que a outra parte é fraca e a fraqueza é conhecida por ser uma poderosa inibidora do amor. Quem quer uma criança mimada e exigente como companheira?
Quantas mais exigências façamos mais destruimos o amor: amar é liberdade; desamor é opressão.
Mesmo sem exigências, temos que nos lembrar que a outra parte é um ser humano autônomo, com uma vida própria: deixemos pois suficiente espaço livre para que ela possa viver plenamente essa vida… para que quando venha ter connosco venha pelo prazer de estar conosco e não para cumprir uma "obrigação": acreditem-se que só assim vale a pena.
Tudo isto é também válido no que respeita à amizade.

2 – Tornâmo-nos desinteressantes
Mesmo que não sejamos carentes e portanto não façamos exigências em termos de amor, atenção e/ou afeto, se mesmo assim centrarmos demasiado a nossa vida na outra pessoa acabamos por ficar com uma vida vazia a muitos outros níveis. Ninguém pode colmatar todos os aspectos da nossa vida (embora a nossa "metade perdida" possa certamente colmatar muitos deles).
Como é que alguém poderá gostar de nós se a nossa vida for vazia e desinteressante? Como é que alguém poderá admirar alguém que não vive plenamente e não tenta tirar o melhor da vida e das suas potencialidades em cada ocasião? Como é que se pode amar sem se admirar intensamente a pessoa amada?
Temos o dever para connosco mesmos de viver o melhor que pudermos e soubermos.

3 – Acabamos por nos aborrecer
Se só vivemos em função da nossa “cara metade”, a longo prazo perdemos o entusiasmo, quer pelo vazio em que a nossa própria vida cai, quer porque a outra parte, por mais esforço que faça e mais interesse que tenha, nunca nos pode satisfazer todas as necessidades…
Temos que ser nós mesmos a encarregarmo-nos da nossa felicidade, não podemos depender exclusivamente de alguém, por muito digno que esse alguém seja. Todos nós temos o dever de ter vidas interessantes.
Repito que ninguém pode preencher por inteiro outra pessoa: a vida passa pelo amor entre duas pessoas especiais (e como passa) mas não se esgota de maneira nenhuma nesse amor. Acreditar que sim é destruir o próprio amor, por mais forte que ele seja.


Mas tudo isto leva-nos a outro problema bastante comum (o primeiro problema é pecar por excesso; o segundo é pecar por defeito): há muitas pessoas que põem a sua relação atrás de tudo na vida (ou pelo menos atrás de demasiadas coisas). Não nos iludamos: o verdadeiro amor (tal como a verdadeira amizade) tem que ocupar um lugar de grande destaque nas nossas vidas; não podemos de maneira nenhuma relegá-lo para um lugar secundário.
De fato, uma relação verdadeira de amor (ou amizade) entre duas pessoas especiais precisa de um grande e contínuo investimento, em termos de atenção, sentimento, companheirismo, interesse, diálogo, empatia, cumplicidade, sexo, atividades em comum, furar a rotina, desabafo, entreajuda, presença, preocupação, sedução, carinho, etc... Quando não há esse investimento ou esse investimento é insuficiente, o amor morre à sede…


Concluindo e resumindo, o amor não é tudo na vida mas é algo de extremamente importante.
Quem tem a sorte de o ter, se o quer manter, tem que encontrar o justo equilíbrio: deixar que o amor se torne a única coisa da nossa vida é pecar por excesso; deixar que o amor seja a última das nossas prioridades atrás de carreira, amigos, hobbies, etc. ou não tenha o seu lugar de grande destaque na nossa vida é pecar por defeito.
Qualquer uma destas posturas extremas são fatais para qualquer amor. A verdade reside no caminho do meio: in medio stat virtus.



quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Eu espero...


"Eu pensei que seríamos simples juntos
Eu pensei que estaríamos contentes juntos
Pensei que seríamos ilimitados juntos
Eu pensei que seríamos preciosos juntos

Eu pensei que seríamos sensuais juntos
Pensei que estaríamos evoluindo juntos
Eu pensei que teríamos crianças juntos
Eu pensei que seríamos uma família juntos

Eu pensei que seríamos geniais juntos
Eu pensei que estaríamos nos curando juntos
Eu pensei que estaríamos crescendo juntos
Pensei que seríamos aventureiros juntos

Pensei que estaríamos explorando juntos
Pensei que nos inspiraríamos juntos
Eu pensei que voaríamos juntos
Pensei que estaríamos em chamas juntos


Eu esperava, que nós pudéssemos dançar juntos
Eu esperava, que nós pudéssemos ser ingênuos juntos
Eu esperava, que pudéssemos ser inexperientes juntos"


Alanis Morisette

Deixo assim ficar subentendido...


"Fico quieto. Primeiro que paixão deve ser coisa discreta, calada, centrada. Se você começa a espalhar aos sete ventos, crau, dá errado. Isso porque ao contar a gente tem a tendência a, digamos, “embonitar” a coisa, e portanto distanciar-se dela, apaixonando-se mais pelo supor-se apaixonado do que pelo objeto da paixão propriamente dito. Sei que é complicado, mas contar falsifica, é isso que quero dizer"

[Caio]

Estando próximos...


'... porque é certo que as pessoas estão sempre crescendo e se modificando, mas estando próximas uma vai adequando o seu crescimento e a sua modificação ao crescimento e à modificação da outra; mas estando distantes, uma cresce e se modifica num sentido e outra noutro completamente diferente, distraídas que ficam da necessidade de continuarem as mesmas uma para a outra.'

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Fly!?


"... precisavas ter os pés na terra, porque se começasses a voar como eu todas as coisas estariam perdidas"

[Caio]

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Dizer "te amo" não é como dizer "bom dia"


"Se tu me amas, ama-me baixinho,
Não o grites por cima dos telhados..."

Andei pensando sobre essa premissa, e cheguei a mesma conclusão que sempre tive...
O verbo amor é grande demais pra ser desperdiçado. Não que nunca deva ser pronunciado, pelo contrário, mas quando o for tem de ser racionalizado o suficiente, sabe aquele amor que você tem plena consciência e responsabilidade!? Então é disso que estou falando!

Como disse o sábio Drummond:

“Não facilite com a palavra amor. / Não a jogue no espaço, bolha de sabão. / Não se inebrie com o seu engalanado som. / Não a empregue sem a razão acima de toda razão. / Não brinque, não experimente, não cometa a loucura / sem remissão / de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra / que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra. / Não a pronuncie.”

Eu acho que se leva tempo pra amar uma pessoa. Em pouco tempo você pode gostar, adorar, querer muito bem alguém, mas amar não!

Eu me recuso a conceber a idéia de amor instantâneo, embora acredite no "amor a primeira vista", mas isso seria com a tal racionalidade a que me referi antes, ou seja, você reconhece de imediato, por uma série de fatores, que aquela pessoa será o grande amor da sua vida, mas de cara você não o ama, você irá o amar ao longo do tempo.

Não há só banalização do verbo "amor", como também do "gostar" e do "adorar"...
Essa mania que as pessoas tem de ficarem tagarelando frases prontas que já disseram um monte de vezes à um monte de pessoas não rola. Sinto muito, mas comigo não rola... Eu não gosto nem um pouco disso, porque, novamente me remete aos comparativos.

Penso que não há necessidade de ficar dizendo o que sente, o sentimento deve ser antes de tudo sentido, vivenciado, e certamente o outro perceberá.
Não há como você sentir - de verdade - sem que o outro não perceba. Sei lá, é como uma energia cósmica, uma vibração, uma reação química, que pode ser compreendida até de um outro lado de uma linha telefônica.

Sinceramente, quem diz "eu te amo" sem conhecer direito a pessoa, ou sem ao menos ter encontrado alguns vários motivos nela pra amar, realmente nunca conheceu o amor.

Porque o amor, antes de tudo é racional, você não crê que ama, tipo uma coisa cega, sem motivos, apenas por fé, não! você conhece a pessoa a tal ponto de amá-la.

Isso me remete à uma frase de um grande mestre da Psicologia, Jung, que um momento de Epifânia declarou:

"Não acredito em Deus, eu O conheço"

É pela experiência e vivência que se gosta de algo, às vezes não se leva muito tempo para perceber que a pessoa é especial, mais daí até se processar tudo o que isso representa e digerir e se chegar à uma conclusão, isso leva tempo...

Alex Supertramp tinha uma boa noção do que não se deve ser vulgarizado, ele tinha plena consciência da "seletividade", não que algumas pessoas não merecessem sua companhia, mas ele sabia escolher com quem compartilhar seus pensamentos/sentimentos, quase como na frase em que diz : "compartilhem a felicidade com as pessoas que você realmente ama"

Pra finalizar vou expor o pensamento de Boris Pasternak, que é bem parecido com o meu...

''Somente os solitários procuram a verdade e rompem com todos que não a amem suficientimente. Quantas coisas no mundo merecem lealdade?..."

Amor!? Só se for real!

Não repetir nenhum comportamento


Me perturba o fato das pessoas viverem do passado, não que ninguém possa guardar na memória lembranças, mas viver como se ele estivesse presente... A pessoa fica tão presa na porta que se fechou que não consegue ver a que está ali, bem na sua frente, aberta...

E sinceramente, eu pelo menos, me sinto tão original e tão diferente das demais pessoas, que odeio ser comparada, como se eu fosse repetir algum comportamento alheio, como se eu fosse previsível, como se eu fosse igual.

Ora bolas, se tem uma coisa que eu não sei ser é ser igual a qualquer outra pessoa, aliás eu sou diferente da maioria das pessoas que eu conheço, tá certo que vez ou outra eu me pego em situações comuns, mas sempre ajo com uma particularidade, nem que seja de propósito.

É como diz Fernando Pessoa:

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."

Ou como diz Caio Abreu sobre as relações passadas... Que de tudo fique...

"Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo."

"não repetir nenhum comportamento. Ser novo" Essa frase tem martelado na minha cabeça, porque, de coração é o que tenho feito, mas algumas pessoas não se dão conta da beleza que reside nisso e simplesmente se repetem, comparam, fazem tudo de novo, sempre igual, outra vez. Triste, porque assim perdem a singularidade da pessoa, ou seja, o melhor dela.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Insuspeitadamente


"Deixa eu te dizer... que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente..."

Caio

Acontece


Então "Não chegaram a usar palavras como especial, diferente ou qualquer outra assim. Apesar de, sem efusões, terem se reconhecido no primeiro segundo do primeiro minuto. Acontece porém que não tinham preparo algum para dar nome às emoções, nem mesmo para tentar entendê-las. "

Porque "É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado."

É que "Num deserto de almas tambem desertas - uma alma especial reconhece de imediato a outra"

Caio Fernando Abreu em "Pensamento"

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Deixai


Deixai que os fatos sejam fatos naturalmente
Sem que sejam forjados para acontecer
Deixai que os olhos vejam os pequenos detalhes
Lentamente deixai que as coisas que lhe circundam
Estejam sempre inertes como móveis
Inofensivos para lhe servir quando for preciso
E nunca lhe causar danos
Sejam eles morais, físicos ou psicológicos.

domingo, 26 de julho de 2009

Happiness is only real when shared


"O objetivo primordial e necessário de toda a existência deve ser a felicidade, mas a felicidade não pode ser obtida individualmente; é inútil esperar-se pela felicidade isolada; todos devem compartilhar dela ou então a maioria nunca será capaz de gozá-la."

Tolstoi

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Mad World


Tudo ao meu redor são rostos gastos
Lugares gastos, rostos cansados
Claros e resplandecentes para suas corridas diárias
Indo a lugar nenhum, indo a lugar nenhum
As lágrimas deles estão enchendo seus copos
Sem expressão, sem expressão
Escondo minha cabeça, quero afogar minha tristeza
Sem futuro, sem futuro

E eu acho de certa forma engraçado
Eu acho de certa forma triste
Os sonhos nos quais estou morrendo
São os melhores que já tive
Eu acho difícil te dizer
Porque acho difícil agüentar
Quando as pessoas correm em círculos
É um mundo muito, muito louco

Crianças esperando pelo dia em que elas se sintam bem
Feliz Aniversário, Feliz Aniversário
Feito pra ser do jeito que toda criança deveria ter

Sente e ouça, sente e ouça
Fui pra escola e eu estava muito nervoso
Ninguém me conhecia, ninguém me conhecia
Agora professor, diga qual é minha lição.
Olhe bem através de mim, olhe bem através de mim

O que me interessa


Não me interessa saber se você tem recursos...

Quero saber o que mais deseja e se ousa sonhar.

Não me interessa saber sua idade...

Quero saber se você correria o risco de parecer infantil por amor.

Não me interessa saber sua maturidade...

Quero saber se você é capaz de conviver com a alegria, a minha ou a sua.

Não me interessa saber se está certo...

Quero saber se é capaz de desapontar o outro para manter-se fiel ao ideal que acredita.

Não me interessa saber da vitória...

Quero saber se você consegue viver com o fracasso, o seu e o meu, e ainda assim pôr-se de pé e tentar.

Não me interessa saber sua postura...

Quero saber se você consegue abrir os braços e permitir-se voar.



Porque a vida é feita de possibilidades, não de fatos.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Superfície




"Mas é que a gente tem tanto medo de penetrar naquilo que não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo, eu quero dizer, é isso mesmo, você está acompanhando meu raciocínio?"

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Composição


Eu sou teu porque antes eu sou de mim mesmo e me fiz teu. É do que eu faço de mim é que me perdi na minha imensidão, e não do que eu sou. Porque o que eu sou é paz, são guerras todos os dias, são rachaduras, são estátuas perfeitamente moldadas por alguém que nunca conheci
Não, talvez seja tão grande assim porque nós somos grandes, e porque a vida é imensa. Essa cidade que me instiga cada vez mais os sentimentos. Imensa e tão pouca. Tão pouca e tão imensa
Você foi, você é, você será, nunca será como eu. Eu nunca serei como ti, ou como mais ninguém. Você é luz que me ilumina, mas só na superfície de alguns anos. Depois que você corroi minha pele, não haverá mais o que corroer, e ai eu adquiro novo aspecto.
Eu conheço você, você me conhece. Talvez não. Talvez sim. E o niilismo de você e de mim, é da nossa inteira composição poética e amorosa.

Caio

Fly



O mundo fora de minha cabeça tem janelas, telhados, nuvens e aqueles bichos brancos lá embaixo. Sobre eles, não se detenha demasiado, pois correrá o risco de transpassá-los com o olhar ou ver neles o que eles próprios não vêem, e isso seria tão perigoso para ti quanto para mim violar sepulcros seculares, mas, sendo uma borboleta, não será muito difícil evitá-lo: bastará esvoaçar sobre as cabeças, nunca pousar nelas, pois pousando correrás o risco de ser novamente envolvida pelos cabelos e reabsorvida pelos cérebros pantanosos e, se isso for inevitável, por descuido ou aventura, não deverás te torturar demasiado, de nada adiantaria, procura acalmar-te e deslizar pra dentro dos tais cérebros o mais suavemente possível, para não seres triturada pelas arestas dos pensamentos, e tudo é natural, basta não teres medos excessivos. trata-se apenas de preservar o azul das tuas asas.

[Caio Fernando Abreu]

Here


"Tenho a impressão que a vida, as coisas foram me levando. Levando em frente, levando embora, levando aos trancos, de qualquer jeito. Sem se importarem se eu não queria mais ir. Agora olho em volta e não tenho certeza se gostaria mesmo de estar aqui."

Patience


"Porque já não temos mais idade para,
dramaticamente, usarmos palavras
grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca".
Ninguém sabe como, mas aos poucos
fomos aprendendo sobre a continuidade
da vida, das pessoas e das coisas. Já não
tentamos o suicídio nem cometemos
gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não.
Contidamente continuamos. E substituímos
expressões fatais como "não resistirei" por
outras mais mansas, como "sei que vai passar".
Esse é o nosso jeito de continuar, o mais
eficiente e também o mais cômodo, porque
não implica em decisões, apenas em paciência.”

Naúfrago


"Será que, à medida que você vai vivendo, andando, viajando, vai ficando cada vez mais estrangeiro? Deve haver um porto."

domingo, 19 de julho de 2009

Way


"Penso: quando você não tem amor, você ainda tem as estradas."

Racionalização



"Fico tão cansada às vezes, e digo pra mim mesma que está errado, que não é assim, que não é este o tempo, que não é este o lugar, que não é esta a vida. E bebo, e fico horas sem pensar absolutamente nada: (...)
Claro, é preciso julgar a si próprio com o máximo de rigidez, mas não sei se você concorda, as coisas por natureza já são tão duras para mim que não me acho no direito de endurecê-las ainda mais."

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Together


"Preciso de alguém que tenha ouvidos para ouvir, porque são tantas histórias a contar. Que tenha boca para, porque são tantas histórias para ouvir, meu amor. E um grande silêncio desnecessário de palavras. Para ficar ao lado, cúmplice, dividindo o astral, o ritmo, a over, a libido, a percepção da terra, do ar, do fogo, da água, nesta saudável vontade insana de viver. Preciso de alguém que eu possa estender a mão devagar sobre a mesa para tocar a mão quente do outro lado e sentir uma resposta como - eu estou aqui, eu te toco também. Sou o bicho humano que habita a concha ao lado da concha que você habita, e da qual te salvo, meu amor, apenas porque te estendo a minha mão. No meio da fome, do comício, da crise, no meio do vírus, da noite e do deserto - preciso de alguém para dividir comigo esta sede.Para olhar seus olhos que não adivinho castanhos nem verdes nem azuis e dizer assim: que longa e áspera sede, meu amor. Que vontade, que vontade enorme de dizer outra vez meu amor, depois de tanto tempo e tanto medo. Que vontade escapista e burra de encontrar noutro olhar que não o meu próprio - tão cansado, tão causado - qualquer coisa vasta e abstrata quanto, digamos assim, um caminho."

Caio

Secret place


"...você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente"

Caio A.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Já faz algum tempo...


Nenhuma verdade me machuca
Nenhum motivo me corrói
Até se eu ficar só na vontade, já não dói

Nenhuma doutrina me convence
Nenhuma resposta me satisfaz
Nem mesmo o tédio me surpreende mais

Mas eu sinto que eu tô viva a cada banho de chuva que chega molhando meu corpo

Nenhum sofrimento me comove
Nenhum programa me distrai
Eu ouvi promessas e isso não me atrai

E não há razão que me governe
Nenhuma lei prá me guiar
Eu tô exatamente aonde eu queria estar

A minha alma nem me lembro mais em que esquina se perdeu ou em que mundo se enfiou

Mas já faz algum tempo
Já faz algum tempo
Faz algum tempo...

Mas eu não tenho pressa
Já não tenho pressa
Eu não tenho pressa
Não tenho pressa

O que eu quero ainda não tem nome...


"Sempre quis um amor
que falasse
que soubesse o que sentisse.

Sempre quis um amor

Que elaborasse
Que quando dormisse
ressonasse confiança
no sopro do sono
e trouxesse beijo
no clarão da amanhecice.

Sempre quis um amor
que coubesse no que me disse.

Sempre quis uma meninice
entre menino e senhor
uma cachorrice
onde tanto pudesse a sem-vergonhice
do macho
quanto a sabedoria do sabedor.

Sempre quis um amor cujo
"bom dia!"
morasse na eternidade de encadear os tempos:
passado presente futuro
coisa da mesma embocadura
sabor da mesma golada.

Sempre quis um amor de goleadas
cuja rede complexa
do pano de fundo dos seres
não assustasse.

Sempre quis um amor
que não se incomodasse
quando a poesia da cama me levasse.

Sempre quis um amor
que não se chateasse
diante das diferenças.

Agora, diante da encomenda
metade de mim rasga afoita
o embrulho
e a outra metade é o
futuro de saber o segredo
que enrola o laço,
é observar
o desenho
do invólucro e compará-lo
com a calma da alma
o seu conteúdo.

Contudo, sempre quis um amor
que me coubesse futuro
e me alternasse em menina e adulta
que ora eu fosse fácil, séria
e ora um doce mistério
que ora eu fosse medo-asneira
e ora eu fosse brincadeira
ultra-sonografia do furor,
sempre quis um amor
que sem tensa-corrida ocorresse.

Sempre quis um amor
que acontecesse
sem esforço
sem medo da inspiração
por ele acabar.

Sempre quis um amor
de abafar,
(não o caso)
mas cuja demora de acaso
estivesse imensamente
nas nossas mãos.

Sem senãos.

Sempre quis um amor
com definição de quero
sem o lero-lero da falsa sedução.

Eu sempre disse não
à constituição dos séculos
que diz que o “garantido” amor
é a sua negação.

Sempre quis um amor
que gozasse
e que pouco antes
de chegar a esse céu
se anunciasse.

Sempre quis um amor
que vivesse a felicidade
sem reclamar dela ou disso.

Sempre quis um amor não omisso
e que suas estórias me contasse.

Ah, eu sempre quis um amor que amasse"

(Elisa Lucinda)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Eu quis duvidar...




"Eu encontrei-o quando não quis
mais procurar o amor
E até quem me vê lendo jornal
na fila do pão sabe que eu te encontrei

Eu encontrei-o e quis duvidar
tanto clichê
deve não ser
Você me falou
pra eu não me preocupar


E só de te ver
eu penso em trocar
a minha tv num jeito de te levar
a qualquer lugar
que você queira

E ir onde o vento for
que pra nós dois
sair de casa já é
se aventurar

Ah vai, me diz o que é o sossego
que eu te mostro alguém afim de te acompanhar
E se o tempo for te levar eu sigo essa hora
eu pego carona
pra te acompanhar..."

Don't let it get away...


"E Ela Tinha…. suspirado
Tinha beijado o papel devotamente.
Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades
E o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas
Como um corpo ressequido que se estira num banho tépido.
Sentia um acréscimo de estima por si mesma,
E parecia-lhe que entrava enfim
Numa existência superiormente interessante
Onde cada hora tinha o seu encanto diferente
Cada passo conduzia a um êxtase
E a alma se cobria de um luxo radioso de sensações"

Arnaldo Antunes

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Bolha


"Este círculo acinzentado apertando cada vez mais, repleto de arestas, de pontas aguçadas. Neste círculo estou em rotação. Meu ser vai girando, girando num lento corrupio, num movimento que é quase dança, quase ciranda. As arestas ferem leve, com jeito de carícia, as pontas apenas afagam enquanto o pensamento se esquiva, na esperança de sair ileso. Então tudo cessa"

Caio A. em Itinerário

Antes de estender os braços...


"Não sei se será possível a gente escolher as próprias verdades, elas mudam tanto. Não só por isso, nossas verdades quase nunca são iguais às dos outros, e é isso que gera o que chamamos de solidão, desencontro, incomunicabilidade. Talvez a maneira como me debato seja natural, e até positiva. É possível que eu parta daí para um conhecimento maior de mim mesmo. Então estarei livre. Acho que meu mal sou eu mesmo, esses círculos concêntricos envolvendo o centro do que devo ser. Mas só poderei me aproximar dos outros depois que começar a desvendar a mim mesmo. Antes de estender os braços, preciso saber o que há dentro desses braços, porque não quero dar somente o vazio. Também não quero me buscar nos outros, me amoldar ao que eles pensam, e no fim não saber distinguir o pensar deles do meu".

sábado, 27 de junho de 2009

Sem placas indicativas


"Minha vida era feita de peças soltas como as de um quebra-cabeça sem molde final. Ao acaso, eu dispunha peças. Algumas chegavam a formar quase uma história, que interrompia-se bruscamente para continuar ou não em mais três ou quatro peças ligadas a outras que nada tinham a ver com aquelas primeiras. Outras restavam solitárias, sem conexão com nada em volta. À medida que o tempo passava, eu fugia, jamais um ano na mesma cidade, eu viajava para não manter laços − afetivos, gordurosos −, para não voltar nunca, e sempre acabava voltando para cidades que já não eram as mesmas, para pessoas de vidas lineares, ordenadas, em cujo traçado definido não haveria mais lugar para mim."


C. F. A.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Hope


"Meu Deus, não sou muito forte, não tenho muito além de uma certa fé — não sei se em mim, se numa coisa que chamaria de justiça-cósmica ou a-coerência-final-de-todas-as-coisas. Preciso agora da tua mão sobre a minha cabeça. Que eu não perca a capacidade de amar, de ver, de sentir. Que eu continue alerta. Que, se necessário, eu possa ter novamente o impulso do vôo no momento exato. Que eu não me perca, que eu não me fira, que não me firam, que eu não fira ninguém. Livra-me dos poços e dos becos de mim, Senhor..."

Caio Fernando Abreu - conto "Lixo e Purpurina" do livro "Ovelhas Negras"

quarta-feira, 24 de junho de 2009

God don't make lonely girls


Eu sei como é se sentir extremamente pequena e insignificante
E como isso dói, em alguns lugares que nem sabia que existiam em você
E não importa quantos cortes de cabelo, quantas academias você frequente
Ou quantas garrafas você toma com suas amigas
Você continua indo pra cama todas as noites, repassando todos os detalhes
E se pergunta o que fez de errado...

E tem sido assim por muitos anos.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Survivor


Tantas vezes me mataram
Tantas vezes morri
Entretanto estou aqui
Ressuscitando
Graças dou à desgraça
E à mão com punhal
Porque me matou tão mal
E segui cantando

Cantando ao sol
Como a cigarra
Depois de um ano
Debaixo da terra
Igual sobrevivente
Que volta da guerra

Tantas vezes me apagaram
Tantas desapareci
A meu próprio enterro fui
Sozinho e chorando
Fiz um nó do lenço,
Mas esqueci depois
Que não era a única vez
E segui cantando

Cantando ao sol
Como a cigarra
Depois de um ano
Debaixo da terra
Igual sobrevivente
Que volta da guerra

Tantas vezes te mataram
Tantas ressuscitará
Quantas noites passará
Desesperando
E à hora do naufrágio
E à da escuridão
Alguém te resgatará
Para ir cantando

Cantando ao sol
Como a cigarra
Depois de um ano
Debaixo da terra
Igual sobrevivente
Que volta da guerra

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Recycle


“Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final...
Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.
Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.
Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu....
Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó.(...)
Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida.
Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és..
E lembra-te:
Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão”.

(Fernando Pessoa)

Floyd explica...


"As horas passam marcando os momentos
Que se vão, que formam um dia monótono
Você desperdiça e perde as horas
De uma maneira descontrolada
Perambulando num pedaço de terra
Na sua cidade natal
Esperando alguém ou algo
Que venha mostrar-lhe o caminho

Cansado de deitar-se na luz do sol
De ficar em casa observando a chuva
Você é jovem e a vida é longa
Há tempo de matar o hoje
E depois, um dia você descobrirá
Que dez anos ficaram para trás
Ninguém te disse quando correr
Você perdeu o tiro de partida

E você corre e corre para alcançar o sol
Mas ele está indo embora no horizonte
E girando ao redor da Terra para se levantar
Atrás de você outra vez
O sol permanece, relativamente, o mesmo
Mas você está mais velho
Com o fôlego mais curto
E a cada dia mais próximo da morte

Cada ano está ficando mais curto
Nunca você parece ter tempo.
Planos que tampouco deram em nada
Ou em meia página de linhas rabiscadas
Insistindo num desespero quieto...

...O tempo se foi, a canção terminou
Pensei que tivesse algo mais a dizer..."

terça-feira, 16 de junho de 2009

Mulheres são como maçãs...


Quem deu a definição das mulheres-maçãs, dizem que foi o Machado de Assis, mas nunca se sabe...

Diz o suposto autor: "mulheres são como maçãs em árvores. As melhores estão no topo. Os homens não querem alcançar essas boas porque têm medo de cair e se machucar. Preferem pegar as maçãs podres que ficam no chão, que não são boas como as do topo, mas são fáceis de conseguir. Assim, as maçãs no topo pensam que algo está errado com elas, quando na verdade, eles estão errados. Elas têm que esperar um pouco para o homem certo chegar, aquele que é valente o bastante para escalar até o topo da árvore"

É fácil concordar com a teoria das maçãs, de que os homens é que estão errados.
Entretanto, quando a gente começa a pensar nas maçãs do topo que conhecemos, fica difícil encarar a teoria como resposta para a tempestade sentimental que aflige tantas mulheres-maçãs hoje em dia.

Explica-se. Quando um homem se depara com uma mulher-maçã, em geral, o sentimento é de tristeza. Porque mesmo quando não se tem condições de sequer ousar escalar a árvore, frente a tão reluzente maçã, no fundo eles sabem: lá do topo, a maçã perde de aproveitar e usufruir da própria vida, fica vendo o mundo passar, olhando para o chão à espera do alpinista valente – ou do príncipe encantado, se preferir.

Poucas coisas são tão deprimentes quanto encontrar uma mulher maravilhosa reclamando sobre relacionamentos sem-pé-nem-cabeça.

É uma questão de escolha da maçã, uma escolha só dela. Cada uma sabe o que faz, imagine-se. Mas isso não tira o direito de ser deprimente.

Elas podem estar certas em não se deixar levar por qualquer alpinista de árvore, porém, é preciso repensar o escopo de visão dessas maçãs do topo.

Quem gosta de observar o comportamento humano pode constatar um fato assustador: a cada dia, aumenta exponencialmente a quantidade de mulheres maravilhosas que não consegue encontrar um pessoa interessante o suficiente para compartilhar bons momentos, com ou sem compromissos.

E quando acham que encontram, comumente ocorre duas coisas: 1) a recíproca não é verdadeira e elas não são valorizadas como deveriam, ou seja, como maçãs do topo; ou 2) em pouco tempo percebem que o alpinista valente não escalou árvore coisa alguma, chegou de pára-quedas.

Com o tempo, as maçãs do topo terminam cansando de esperar. Apodrecem no galho e, de tanto olhar os valentões colhendo apenas as maçãs podres do chão, elas se sacodem e se atiram ao chão, para ver se são colhidas também, às vezes por qualquer um. E depois se arrependem – mas isso elas nunca contam.

Não percebem que, às vezes, os homens com medo de altura são tomados por uma pretensão desconhecida, um coragem inexplicável racionalmente, e arriscam escalar a árvore. Escalam escondidos, com medo, devagar, mas escalam.

Desconfiados de que não colherão fruto algum, pois, afinal, não se acham valentes o bastante para desfrutar as do topo. Caem várias vezes. Tentam novamente, caem de novo. É que geralmente são inseguros para competir com os valentões (imaginários) que as maçãs do topo tanto esperam.

O maior problema das mulheres-maçãs é que, aparentemente, elas não percebem que o tempo passa, o tempo voa. Cedo ou tarde, maçãs também apodrecem, às vezes sem nem cair no chão. Mais cedo do que tarde. Por isso também é comum que alguém chegue ao topo e não encontre uma maçã.

É que não são apenas maçãs do topo que cansam de esperar. Os alpinistas também cansam de procurar e de serem empurrados árvore abaixo.

Pensemos...

Times like these


"Eu, eu sou uma rodovia de mão única
Eu sou quem detém a condução
e te acompanha de volta pra casa

Eu, eu sou uma luz brilhando na rua
sou o brilho cegante da luz alva
queimando descontinuamente

É nessas horas que você reaprende a viver
é nessas horas que você se entrega e reentrega
é nessas horas que você reaprende a amar
é nessas horas, muitas e muitas vezes

Eu, sou um novo dia raiando
Eu sou um novíssimo céu que sustenta
as estrelas hoje a noite

Eu, eu estou um pouco dividido
será que fico ou fujo daqui e deixo tudo para trás?"

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Seca


Frente à tela branca
Ainda seca
Sem cores
Nem amores
Nas palavras falhas.

Tic-tac, tic-tac, tic...

(Breno Maia)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Eu que não sou


"Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza.
Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado (...), que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio."

Gabriel Garcia Márquez

sábado, 2 de maio de 2009

Wait


"Então eu te disse que me doíam essas esperas, esses chamados que não vinham e quando vinham sempre e nunca traziam nem a palavra nem a pessoa exata. E que eu me recriminava por estar sempre esperando que nada fosse como eu esperava, ainda que soubesse"

C. F.

Outside


"Um dia tu vais compreender que não existe nehuma pessoa totalmente má, nehuma pessoa completamente boa. Tu vais ver que todos nós somos apenas humanos. E sofrerás muito quando resolveres dizer só aquilo que pensas e fazer só aquilo que gostas. Aí sim, todos te virarão as costas e te acharão mau por não quereres entrar na ciranda deles, compreendes? "

Caio F.

Remando contra maré


"Será que, à medida que você vai vivendo, andando, viajando, vai ficando cada vez mais estrangeiro? Deve haver um porto".

C. F. A.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

A procura


Gentil, faceiro,
um cavaleiro,
sob sol e sombreado,
seguiu avante,
cantarolante,
em busca do Eldorado.

Mas o andarilho
ficou tão velho,
no âmago assombrado,
por não achar
nenhum lugar
assim como Eldorado.

E, enfim diante
de sombra errante,
parou, quando esgotado
e arguiu-lhe “onde,
sombra, se esconde
a terra de Eldorado?”

“Sobre as montanhas
da lua e entranhas
do Vale Mal-Assombrado,
vá com coragem,”
disse a miragem,
“se procuras o Eldorado”.


Edgar Allan Poe

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Ironic


"Um idoso fez noventa e oito anos
Ele ganhou na loteria e morreu no dia seguinte
É uma mosca no seu Chardonnay
É uma absolvição de morte dois minutos mais tarde
Isso não é irônico? Você não acha?

É como chover no dia do seu casamento
É por conta da casa quando você já pagou
É um bom conselho que você simplesmente rejeitou
E quem iria pensar que ele faz sentido?

Sr. Segurança estava com medo de voar
Ele fez suas malas e deu um beijo de adeus em seus filhos
Ele esperou sua maldita vida inteira para pegar aquele vôo
E enquanto o avião caía ele pensou "Bem, isso não é legal?"
E isso não é irônico? Você não acha?


Bem, a vida tem uma engraçada maneira
De te atrapalhar quando você pensa que está tudo bem e tudo está dando certo
E a vida tem uma engraçada maneira
De te ajudar quando você pensa que tudo deu errado e tudo explode na sua cara

Um congestionamento quando você já está atrasado
Um sinal de "Não Fume" na sua pausa para o cigarro
É como dez mil colheres quando tudo o que você precisa é de uma faca
É conhecer o homem dos meus sonhos e então conhecer sua linda esposa.
E isso não é irônico? Você não acha?
Um pouco irônico demais... E, sim, eu realmente acho...

A vida tem uma engraçada maneira de te atrapalhar
A vida tem uma engraçada, engraçada maneira
De te ajudar, de te ajudar"

Alanis

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Ausência


"Caí em meu patético período de desligamento. Muitas vezes, diante de seres humanos bons e maus igualmente, meus sentidos simplesmente se desligavam, se cansam, eu desisto. Sou educado. Balanço a cabeça. Finjo entender, porque não quero magoar ninguém. Este é o único ponto fraco que tem me levado à maioria das encrencas. Tentando ser bom com os outros, muitas vezes tenho a alma reduzida a uma espécie de pasta espiritual.
Deixa pra lá. Meu cérebro se tranca. Eu escuto. Eu respondo. E eles são broncos demais para perceber que não estou mais ali."

Charles Bukowski

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Night Inside


"Presente em tudo que eu faço
em qualquer hora e lugar
em toda esquina em cada passo:
profana luz a me guiar
vida a fora, noite a dentro

Impressa em cada gesto meu
brilha a luz no fim do túnel
cores capazes de cegar
quem tem medo de entregar-se
vida a fora, noite a dentro

Inimigos na trincheira
guantanamera militar
e a ilha não se curva
às águas turvas desse mar
vida a fora, noite a dentro."

H. G.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Morte morrerás



"Oh! Morte, que alguns dizem assombrosa
E forte, não te orgulhes, não és assim;
Mesmo aquele a quem visastes o fim,
Não morre; não te vejo vitoriosa.
Vens em sono e repouso disfarçada,
Prazeres para os que tu surpreendes;
E o bom ao conhecer o que pretendes
Descansa o corpo, a alma libertada.
Serves aos reis, ao azar e às agonias,
A ti, doença e guerra se acasalam;
Também os ópios e magias nos embalam,
Como o sono. De que te vanglorias?
Um breve sono que a vida eterna traz,
Golpeia a morte, Morte morrerás."

John Donne

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Mental search



I might be moving to the east
to part my ways
And I will try to get something
I don't have yet
If I do, I will look at it
for days and days
Untill I will never forget

I have heard this mental search
has made them all
take a look along the border
Having the urge
For their minds
to be lifted
to something new
I'm running to meet
my higher self

I trust the speed
Untill I have no need
to run anymore

Miles and miles I run

I hear my feet
And I hear myself breathe
heavily

I trust the speed
Untill I have no need
To run anymore

(The Gathering)