sábado, 29 de março de 2008


"Quanto mais claro/ Vejo em mim, mais escuro é o que vejo./ Quanto mais compreendo/ Menos me sinto compreendido./ Ó horror paradoxal deste pensar... " Fernando Pessoa

sexta-feira, 28 de março de 2008

Os ombros suportam o mundo


"Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação"
(Drummond)

quinta-feira, 27 de março de 2008

Além-tédio



Nada me expira já, nada me vive
Nem a tristeza nem as horas belas.
De as não ter e de nunca vir a tê-las,
Fartam- me até as coisas que não tive.

Como eu quisera, enfim de alma esquecida,
Dormir em paz num leito de hospital...
Cansei dentro de mim, cansei a vida
De tanto a divagar em luz irreal.

Outrora imaginei escalar os céus
À força de ambição e nostalgia,
E doente-de-Novo, fui-me Deus
No grande rastro fulvo que me ardia.

Parti. Mas logo regressei à dor,
Pois tudo me ruiu... Tudo era igual:
A quimera, cingida, era real,
A própria maravilha tinha cor!

Ecoando-me em silêncio, a noite escura
Baixou-me assim na queda sem remédio;
Eu próprio me raguei na profundura,
Me sequei todo, endureci de tédio.

E só me resta hoje uma alegria:
É que, de tão iguais e tão vazios,
Os instantes me esvoam dia a dia
Cada vez mais velozes, mais esguios...

[Mário de Sá-Carneiro]

quarta-feira, 26 de março de 2008



Procuro um lugar
Não sei se neste ou noutro mundo
Num mundo onde andei
A vida escondeu
No esquecimento mais profundo
Alguém que hoje sou eu

Penso que assim, então
Melhor eu me mandar
Saio cansada e vou, perdida pela rua
Dizendo que o tempo vai levar pra longe tudo que passou
E assim vou vivendo

Pra lembrar quem eu sou
Pra salvar o que ainda restou, do meu tempo
E assim vou vivendo

Eu não sou eu
Procuro por mim
E sei que estou longe
Mas quando eu vejo, então
Esqueço tudo e nada
Parece tão sério assim
Eu volto pra casa
E depois fico a me perder
Dizendo que o tempo vai levar pra longe tudo que passou
E assim vou vivendo

Pra tentar achar a si mesmo
Alguém que não olha pra trás
Não sabe ver
O que a vida fez
Cedo ou tarde encontra o segredo
Pra lembrar quem eu sou
Pra salvar o que ainda restou, do meu tempo
E assim vou vivendo

(Fusão adaptada do original "Do Nosso Tempo" e
"À La Recherche" de Duka Leindecker)

"Tinha vinte e três anos de idade. Queria habitar fatos, não sonhos" Salman Rushdie

terça-feira, 25 de março de 2008

Seja você mesmo


"Alguém cai aos pedaços
dormindo sozinho
Alguém mata a dor
girando no silêncio
pra finalmente ir pra longe

Alguém se alegra
numa capela
Apanha um buquê
Outro coloca uma dúzia
de rosas brancas sobre um túmulo

Alguém encontra salvação
em todo mundo
Outro, apenas dor
Alguém tenta se esconder
Por dentro ele ora

Alguém jura verdadeiro amor
Até o fim dos tempos
Outro, foge
Separados ou juntos
Saudáveis ou loucos

Mesmo tendo pago o suficiente,
tendo rompido
sendo impedido
toda simples memória
do que poderia ter sido
traços de amor
Não perca o sono essa noite
tenho certeza de que tudo terminará bem
Você pode ganhar ou perder
Mas ser você mesmo é tudo o que você pode fazer"

(Chris Cornell)

Concreto e asfalto


Passeio os olhos pela claridade que vem da janela, tola manhã que me deixa respirar um tanto de esperança. Nem queria pensar tanto em tantos planos, mas não existe a menor chance de eu simplesmente deixar as coisas ao meu, ao seu redor, ruírem em paz. Não. Eu escrevo em tons menores, há dias em que só para isso meu coração se move, para um inexplicável "dejavu" que não me deixa um segundo sem sentir. Eu não consigo ter certeza, mas... bem... agora eu só queria ter certeza, pegar uma rua qualquer e andar, andar, levar meu coração, uma máquina de escrever, alguns lápis de cor, desenhar como a muito não faço, todos os outros passos (sejam aqueles guiados pelo dinheiro ou pelo amor), não importariam mais, ou melhor, não se distinguiriam um do outro. Queria ter um pensamento bucólico, mas só sinto concreto e asfalto. Te confesso o que amo, mas não sou mais nem a metade do que costumava imaginar que realmente pudesse ser. E bem no fundo eu sempre fui assim, mas não via o quanto errada eu ainda poderia estar.

Eu sem mim


Esta é você
De olhos fechados na chuva
Nunca pensou que fosse fazer algo assim
Você nunca se via como...
Não sei como descreveria, como uma dessas pessoas que gostam de olhar a lua ou que passam horas contemplando as ondas ou o pôr-do-sol
Deve saber de que tipo de pessoa estou falando
Talvez não saiba
Seja como for, você gosta de ficar assim...
Lutando contra o frio
E sentindo a água penetrando em por sua camisa e tocando sua pele
E da sensação do chão fic
ando fofo, debaixo dos seus pés
E do cheiro
E do som da chuva nas folhas
De todas as coisas que estão nos livros que você não leu
Essa é você
Quem teria imaginado
Você

domingo, 23 de março de 2008

Dias incertos



Ouço os sons dos meus silêncios...
na velocidade das pulsações,
vejo retalhos de mim mesma.

No embalo desta música
meu sangue
dança pelas veias ...

O tempo para
em seu ritmo penetrante,
a seguir expande...

Em meu peito um soluço
soleva as paredes brancas
da estrada que nunca passei...

Ah...esta música
Eleva-me e conduz
ao fulgor incerto
e fino da luz

Por isso eu toco,
toco esta melodia silenciosa
para não me perder.

(Andréa Motta)

quarta-feira, 19 de março de 2008

Free!?



"Oh, it's a mystery to me
We have a greed with which we have agreed
And you think you have to want more than you need
Until you have it all you won't be free

When you want more than you have
You think you need...
And when you think more than you want
Your thoughts begin to bleed
I think I need to find a bigger place
Because when you have more than you think
You need more space

There's those thinking, more-or-less, less is more
But if less is more, how you keeping score?
Means for every point you make, your level drops
Kinda like you're starting from the top
You can't do that...

Society, have mercy on me
Hope you're not angry if I disagree...
Society, crazy indeed
Hope you're not lonely without me..."

(Jerry Hannan)