segunda-feira, 19 de maio de 2008

Já não me importo


"Já não me importo
Até com o que amo ou creio amar.
Sou um navio que chegou a um porto
E cujo movimento é ali estar.

Nada me resta
Do que quis ou achei.
Cheguei da festa
Como fui para lá ou ainda irei

Indiferente
A quem sou ou suponho que mal sou,

Fito a gente
Que me rodeia e sempre rodeou,

Com um olhar
Que, sem o poder ver,
Sei que é sem ar
De olhar a valer.

E só me não cansa
O que a brisa me traz
De súbita mudança
No que nada me faz".

(Fernando Pessoa)

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Confusion


"O que eu sinto, eu não ajo.
O que ajo, não penso.
O que penso, não sinto.
Do que sei, sou ignorante.
Do que sinto, não ignoro.
Não me entendo e ajo como se me entendesse"

Clarice Lispector

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Morte Morrerás!

"Morte, não te orgulhes, embora alguns te provem
Poderosa, temível, pois não és assim,
Pobre morte: não poderás matar-me a mim,
E os que presumes que derrubaste, não morrem.
Se tuas imagens, sono e repouso, nos podem
Dar prazer, quem sabe mais nos darás? Enfim,
Descansar corpos, liberar almas, é ruim?
Por isso, cedo os melhores homens te escolhem.
És escrava do fado, de reis, do suicida;
Com guerras, veneno, doença hás de conviver;
Ópios e mágicas também têm teu poder
De fazer dormir. E te inflas envaidecida?
Após curto sono, acorda eterno o que jaz,
E a morte já não é; morte, tu morrerás".


(John Donne)

terça-feira, 6 de maio de 2008

Metade


"...Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é a platéia
A outra metade é a canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também".

[Oswaldo Montenegro-Metade]

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Parabólica


"Ela pára e fica alí parada
Olha-se para nada
Paraná

Fica parecida paraguaia
Para-raios em dia de sol
Para mim

Prenda minha parabólica
Princesinha parabólica
O pecado mora ao lado
Paraíso
Paira no ar

Pecados no paraíso

Se a tv estiver fora do ar
Quando passarem os melhores momentos da sua vida
Pela janela alguém estará
De olho em você
Paranóica

Prenda minha parabólica
Princesinha clarabólica
Paralelas que se cruzam
Em belém do pará

Longe, longe, longe
Aqui do lado
Paradoxo
Nada nos separa

Eu paro e fico aqui parado
Olho-me para longe
A distância nao separabólica"

Humberto Gessinger