terça-feira, 28 de agosto de 2012

Waiting On The Sun




"Estou indo pra nenhum lugar
E estou tentando conseguir minha vez
Todas as questões no mundo
Eu posso deixar em minha cabeça
Estou esperando na luz do sol
A luz do sol

Estou esperando respostas
Estou esperando pra ter esperanças
Eu tropeço sobre minhas possibilidades
Eu me escondo através da minha dúvida

Bem, parece que minha fraqueza
Às vezes é minha única força
E em minhas falhas
Você tomou seu próprio caminho

Estarei por perto
E acharei meu caminho de volta
Não se pode cantar o som
Do sol"

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Mad World


Este beijo em tua fronte deponho!
Vou partir. E bem pode, quem parte,
francamente aqui vir confessar-te
que bastante razão tinhas, quando
comparaste meus dias a um sonho.
Se a esperança se vai, esvoaçando,
que me importa se é noite ou se é dia...
ente real ou visão fugidia?
De maneira qualquer fugiria.
O que vejo, o que sou e suponho
não é mais do que um sonho dentro de um sonho.



Fico em meio ao clamor, que se alteia
de uma praia, que a vaga tortura.
Minha mão grãos de areia dourada segura
São tão poucos! Mas, fogem-me, pelos
dedos, para a profunda água escura.
Os meus olhos se inundam de pranto.
Oh! meu Deus! E não posso retê-los,
se os aperto na mão, tanto e tanto?
Ah! meu Deus! E não posso salvar
um ao menos da fúria do mar?
O que vejo, o que sou e suponho
será apenas um sonho dentro de um sonho?


(Edgar Allan Poe)

terça-feira, 31 de julho de 2012

Para atravessar agosto...


Para atravessar agosto é preciso, antes de tudo, paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro – e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah! Escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.
 Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir, dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons, deixam a vontade impossível de morar neles, se maus, fica a suspeita de sinistros augúrios, premonições. Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos. Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente, agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos – ou precauções-úteis a todos. O mais difícil: evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a fantasia categoria originalidade…Esquecê-lo tão completamente quanto possível (santo ZAP): FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.
Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu – sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.
Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques – tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informações para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire, a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas – coisas assim são eficientíssimas, pouco me importa ser acusado de alienação. É isso mesmo, evasão, escapismos, explícitos.
Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter de mais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco.

Caio Fernando Abreu (6/8/1995 – para o jornal o estado de são paulo)

sábado, 28 de julho de 2012

Por que nós?


"Éramos célebres líricos
Éramos sãos
Lúcidos céticos
Cínicos não
Músicos práticos
Só de canção
Nada didáticos
Nem na intenção
Tímidos típicos
Sem solução
Davam-nos rótulos
Todos em vão
Éramos únicos
Na geração
Éramos nós dessa vez
Tínhamos dúvidas clássicas
Muita aflição
Críticas lógicas
Ácidas não
Pérolas ótimas
Cartas na mão
Eram recados
Pra toda a nação
Éramos súditos
Da rebelião
Símbolos plácidos
Cândidos não
Ídolos mínimos
Múltipla ação
Sempre tem gente pra chamar de nós
Sejam milhares, centenas ou dois
Ficam no tempo os torneios da voz
Não foi só ontem, é hoje e depois
São momentos lá dentro de nós
São outros ventos que vêm do pulmão
E ganham cores na altura da voz
E os que viverem verão
Fomos serenos num mundo veloz
Nunca entendemos então por que nós
Só mais ou menos"

(Marcelo Jeneci)

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Volver


Algo me incomoda ultimamente. Não, não sei dizer o que é. Sinto uma estranha familiaridade racional com tudo isso. Se já estive nesse ponto outras vezes!? Sim, acho que sim. Provavelmente um daqueles insights psicológicos que custam a se desfazer.
Acho que a chave da questão é onde estive antes de agora.

Isso me soa familiar, aliás, acho que faz lembrar todo aquele discurso sobre "enantiodromia" http://pt.wikipedia.org/wiki/Enantiodromia, que vivo me queixando e debatendo com o Luiz Filipi http://tornbystars.blogspot.com.br/, e que, recorentemente me encontro.
Não sei se trata-se de ter ido a lugares tão "sombrios" da minha mente, que me faz agora achar tudo tão "aceitável" e "simples", e tudo bem, deve ser um daqueles momentos "no drama", que invariavelmente se converterão em sentimentalismo tolo.
Sinceramente!? Estou me cansando disso. Consigo prever cada movimento que ocorrerá comigo e com os que me cercam neste momento. Cada acerto, cada erro, cada sentimento...
Como se fosse sempre o mesmo teatro, cada vez com atores diferentes.
E ai, meio que vai ficando mecânico, e, talvez mais racional (Sempre achei que isso fosse uma coisa boa, agora já não tenho tanta certeza).

Confesso que com essa "antevisão" das coisas, dá pra modificar algumas cenas, fazer diferente, mas, irremediavelmente alguns atos acabam do mesmo modo. Quase como um "destino fatalístico".
Só espero que essa peça fique em cartaz por mais tempo, e que, eu não morra no final (Pelo menos não de modos tão terríveis como em outras ocasiões).
E, só pra variar esse pensamento me conduz a um link que também fiz algumas outras vezes (Sou tão previsível)...

Como a CigarraTantas vezes me mataramTantas vezes morriEntretanto estou aquiRessuscitandoGraças dou à desgraçaE à mão com punhalPorque me matou tão malE segui cantando
Cantando ao solComo a cigarraDepois de um anoDebaixo da terraIgual sobreviventeQue volta da guerra
Tantas vezes me apagaramTantas desapareciA meu próprio enterro fuiSozinho e chorandoFiz um nó do lenço,Mas esqueci depoisQue não era a única vezE segui cantando
Cantando ao solComo a cigarraDepois de um anoDebaixo da terraIgual sobreviventeQue volta da guerra
Tantas vezes te mataramTantas ressuscitaráQuantas noites passaráDesesperandoE à hora do naufrágioE à da escuridãoAlguém te resgataráPara ir cantando
Cantando ao solComo a cigarraDepois de um anoDebaixo da terraIgual sobreviventeQue volta da guerra
(Mercedes Sosa)

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Noutro Lugar



"Que vontade escapista e burra de encontrar noutro olhar que não o meu próprio - tão cansado, tão causado - qualquer coisa vasta e abstrata quanto, digamos assim, um caminho"

(Caio Abreu)

Recordação (Rascunho de 2009)



O primeiro olhar, o primeiro sorriso, o primeiro andar de mãos dadas, o primeiro beijo. É o último. É como ter certeza que tudo aquilo que sentiu nos últimos quinze minutos nunca mais se repetirá, mesmo que a canção se repita. Mesmo que você volte atrás. É o coração, é a respiração. São todas aquelas lendas sobre acordar e descobrir que dormiu por 25 anos e a partir deste momento, todas as coisas serão novas, serão como um bom dia, uma boa noite. É como chegar cansada e ouvir a voz da pessoa que você escolheu pra estar sempre ali dizendo “querida, como foi o seu dia?”. É o sorrir, se descobrindo uma boba apaixonada, é roer as unhas de ansiedade. É o sim, o não também. É o primeiro fim e o próximo começo de tudo. É a última palavra. É ser a primeira a voltar atrás. É desejar o calor do sol, mas não abrir mão do frio. É um cobertor, um cachecol, um guarda chuva. Me faz gostar, me faz querer tudo de novo. Outra vez.