sábado, 27 de junho de 2009

Sem placas indicativas


"Minha vida era feita de peças soltas como as de um quebra-cabeça sem molde final. Ao acaso, eu dispunha peças. Algumas chegavam a formar quase uma história, que interrompia-se bruscamente para continuar ou não em mais três ou quatro peças ligadas a outras que nada tinham a ver com aquelas primeiras. Outras restavam solitárias, sem conexão com nada em volta. À medida que o tempo passava, eu fugia, jamais um ano na mesma cidade, eu viajava para não manter laços − afetivos, gordurosos −, para não voltar nunca, e sempre acabava voltando para cidades que já não eram as mesmas, para pessoas de vidas lineares, ordenadas, em cujo traçado definido não haveria mais lugar para mim."


C. F. A.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Hope


"Meu Deus, não sou muito forte, não tenho muito além de uma certa fé — não sei se em mim, se numa coisa que chamaria de justiça-cósmica ou a-coerência-final-de-todas-as-coisas. Preciso agora da tua mão sobre a minha cabeça. Que eu não perca a capacidade de amar, de ver, de sentir. Que eu continue alerta. Que, se necessário, eu possa ter novamente o impulso do vôo no momento exato. Que eu não me perca, que eu não me fira, que não me firam, que eu não fira ninguém. Livra-me dos poços e dos becos de mim, Senhor..."

Caio Fernando Abreu - conto "Lixo e Purpurina" do livro "Ovelhas Negras"

quarta-feira, 24 de junho de 2009

God don't make lonely girls


Eu sei como é se sentir extremamente pequena e insignificante
E como isso dói, em alguns lugares que nem sabia que existiam em você
E não importa quantos cortes de cabelo, quantas academias você frequente
Ou quantas garrafas você toma com suas amigas
Você continua indo pra cama todas as noites, repassando todos os detalhes
E se pergunta o que fez de errado...

E tem sido assim por muitos anos.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Survivor


Tantas vezes me mataram
Tantas vezes morri
Entretanto estou aqui
Ressuscitando
Graças dou à desgraça
E à mão com punhal
Porque me matou tão mal
E segui cantando

Cantando ao sol
Como a cigarra
Depois de um ano
Debaixo da terra
Igual sobrevivente
Que volta da guerra

Tantas vezes me apagaram
Tantas desapareci
A meu próprio enterro fui
Sozinho e chorando
Fiz um nó do lenço,
Mas esqueci depois
Que não era a única vez
E segui cantando

Cantando ao sol
Como a cigarra
Depois de um ano
Debaixo da terra
Igual sobrevivente
Que volta da guerra

Tantas vezes te mataram
Tantas ressuscitará
Quantas noites passará
Desesperando
E à hora do naufrágio
E à da escuridão
Alguém te resgatará
Para ir cantando

Cantando ao sol
Como a cigarra
Depois de um ano
Debaixo da terra
Igual sobrevivente
Que volta da guerra

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Recycle


“Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final...
Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.
Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.
Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu....
Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó.(...)
Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida.
Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és..
E lembra-te:
Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão”.

(Fernando Pessoa)

Floyd explica...


"As horas passam marcando os momentos
Que se vão, que formam um dia monótono
Você desperdiça e perde as horas
De uma maneira descontrolada
Perambulando num pedaço de terra
Na sua cidade natal
Esperando alguém ou algo
Que venha mostrar-lhe o caminho

Cansado de deitar-se na luz do sol
De ficar em casa observando a chuva
Você é jovem e a vida é longa
Há tempo de matar o hoje
E depois, um dia você descobrirá
Que dez anos ficaram para trás
Ninguém te disse quando correr
Você perdeu o tiro de partida

E você corre e corre para alcançar o sol
Mas ele está indo embora no horizonte
E girando ao redor da Terra para se levantar
Atrás de você outra vez
O sol permanece, relativamente, o mesmo
Mas você está mais velho
Com o fôlego mais curto
E a cada dia mais próximo da morte

Cada ano está ficando mais curto
Nunca você parece ter tempo.
Planos que tampouco deram em nada
Ou em meia página de linhas rabiscadas
Insistindo num desespero quieto...

...O tempo se foi, a canção terminou
Pensei que tivesse algo mais a dizer..."

terça-feira, 16 de junho de 2009

Mulheres são como maçãs...


Quem deu a definição das mulheres-maçãs, dizem que foi o Machado de Assis, mas nunca se sabe...

Diz o suposto autor: "mulheres são como maçãs em árvores. As melhores estão no topo. Os homens não querem alcançar essas boas porque têm medo de cair e se machucar. Preferem pegar as maçãs podres que ficam no chão, que não são boas como as do topo, mas são fáceis de conseguir. Assim, as maçãs no topo pensam que algo está errado com elas, quando na verdade, eles estão errados. Elas têm que esperar um pouco para o homem certo chegar, aquele que é valente o bastante para escalar até o topo da árvore"

É fácil concordar com a teoria das maçãs, de que os homens é que estão errados.
Entretanto, quando a gente começa a pensar nas maçãs do topo que conhecemos, fica difícil encarar a teoria como resposta para a tempestade sentimental que aflige tantas mulheres-maçãs hoje em dia.

Explica-se. Quando um homem se depara com uma mulher-maçã, em geral, o sentimento é de tristeza. Porque mesmo quando não se tem condições de sequer ousar escalar a árvore, frente a tão reluzente maçã, no fundo eles sabem: lá do topo, a maçã perde de aproveitar e usufruir da própria vida, fica vendo o mundo passar, olhando para o chão à espera do alpinista valente – ou do príncipe encantado, se preferir.

Poucas coisas são tão deprimentes quanto encontrar uma mulher maravilhosa reclamando sobre relacionamentos sem-pé-nem-cabeça.

É uma questão de escolha da maçã, uma escolha só dela. Cada uma sabe o que faz, imagine-se. Mas isso não tira o direito de ser deprimente.

Elas podem estar certas em não se deixar levar por qualquer alpinista de árvore, porém, é preciso repensar o escopo de visão dessas maçãs do topo.

Quem gosta de observar o comportamento humano pode constatar um fato assustador: a cada dia, aumenta exponencialmente a quantidade de mulheres maravilhosas que não consegue encontrar um pessoa interessante o suficiente para compartilhar bons momentos, com ou sem compromissos.

E quando acham que encontram, comumente ocorre duas coisas: 1) a recíproca não é verdadeira e elas não são valorizadas como deveriam, ou seja, como maçãs do topo; ou 2) em pouco tempo percebem que o alpinista valente não escalou árvore coisa alguma, chegou de pára-quedas.

Com o tempo, as maçãs do topo terminam cansando de esperar. Apodrecem no galho e, de tanto olhar os valentões colhendo apenas as maçãs podres do chão, elas se sacodem e se atiram ao chão, para ver se são colhidas também, às vezes por qualquer um. E depois se arrependem – mas isso elas nunca contam.

Não percebem que, às vezes, os homens com medo de altura são tomados por uma pretensão desconhecida, um coragem inexplicável racionalmente, e arriscam escalar a árvore. Escalam escondidos, com medo, devagar, mas escalam.

Desconfiados de que não colherão fruto algum, pois, afinal, não se acham valentes o bastante para desfrutar as do topo. Caem várias vezes. Tentam novamente, caem de novo. É que geralmente são inseguros para competir com os valentões (imaginários) que as maçãs do topo tanto esperam.

O maior problema das mulheres-maçãs é que, aparentemente, elas não percebem que o tempo passa, o tempo voa. Cedo ou tarde, maçãs também apodrecem, às vezes sem nem cair no chão. Mais cedo do que tarde. Por isso também é comum que alguém chegue ao topo e não encontre uma maçã.

É que não são apenas maçãs do topo que cansam de esperar. Os alpinistas também cansam de procurar e de serem empurrados árvore abaixo.

Pensemos...

Times like these


"Eu, eu sou uma rodovia de mão única
Eu sou quem detém a condução
e te acompanha de volta pra casa

Eu, eu sou uma luz brilhando na rua
sou o brilho cegante da luz alva
queimando descontinuamente

É nessas horas que você reaprende a viver
é nessas horas que você se entrega e reentrega
é nessas horas que você reaprende a amar
é nessas horas, muitas e muitas vezes

Eu, sou um novo dia raiando
Eu sou um novíssimo céu que sustenta
as estrelas hoje a noite

Eu, eu estou um pouco dividido
será que fico ou fujo daqui e deixo tudo para trás?"