sábado, 8 de agosto de 2009

Inteligência emocional


Um dos erros mais comuns quando se gosta de alguém é concentrarmo-nos demasiado nessa pessoa. Mas porque é que isso será um erro? Não será até desejável?

Tal como em tudo na vida, é necessário conta, peso e medida.
Quando nos concentramos demasiado numa pessoa descuramos aspectos importantes da nossa própria vida, pelo que a longo prazo deixamos de a viver.

Isso põe em perigo a própria relação por três razões:

1 – Sufocamos o outro.
Muitas pessoas são carentes e sufocam o outro com exigências em termos de amor, atenção e afeto. Isso é contraproducente porque se há coisas que não se podem sequer pedir (muito menos mendigar) é amor, atenção e afeto: acho que ninguém mentalmente são quer qualquer uma destas coisas se for obtida por coerção (por chorinho, chantagem emocional, etc…). Para terem valor estas coisas têm que ser cedidas naturalmente (sem esforço e com profundo prazer por parte de quem as oferece) e portanto, se não estamos satisfeitos com o montante de amor, atenção e afeto que recebemos, a única forma que temos de alterar essa situação é pela positiva, dando-nos (sem pensar em receber) e sendo dignos da relação ou contentando-nos com menos: se mesmo assim a coisa não resultar, então é porque a relação não tem pernas para andar ou porque queremos demais…
Aliás, quem é incapaz de entender isso e continua na sua senda de exigências a este nível, por muito amor que exista, acaba por provocar o fim da relação porque ninguém mentalmente equilibrado pode aceitar que a felicidade de alguém dependa inteiramente de si (é um fardo demasiado pesado) e, por outro lado, exigências constantes provam que a outra parte é fraca e a fraqueza é conhecida por ser uma poderosa inibidora do amor. Quem quer uma criança mimada e exigente como companheira?
Quantas mais exigências façamos mais destruimos o amor: amar é liberdade; desamor é opressão.
Mesmo sem exigências, temos que nos lembrar que a outra parte é um ser humano autônomo, com uma vida própria: deixemos pois suficiente espaço livre para que ela possa viver plenamente essa vida… para que quando venha ter connosco venha pelo prazer de estar conosco e não para cumprir uma "obrigação": acreditem-se que só assim vale a pena.
Tudo isto é também válido no que respeita à amizade.

2 – Tornâmo-nos desinteressantes
Mesmo que não sejamos carentes e portanto não façamos exigências em termos de amor, atenção e/ou afeto, se mesmo assim centrarmos demasiado a nossa vida na outra pessoa acabamos por ficar com uma vida vazia a muitos outros níveis. Ninguém pode colmatar todos os aspectos da nossa vida (embora a nossa "metade perdida" possa certamente colmatar muitos deles).
Como é que alguém poderá gostar de nós se a nossa vida for vazia e desinteressante? Como é que alguém poderá admirar alguém que não vive plenamente e não tenta tirar o melhor da vida e das suas potencialidades em cada ocasião? Como é que se pode amar sem se admirar intensamente a pessoa amada?
Temos o dever para connosco mesmos de viver o melhor que pudermos e soubermos.

3 – Acabamos por nos aborrecer
Se só vivemos em função da nossa “cara metade”, a longo prazo perdemos o entusiasmo, quer pelo vazio em que a nossa própria vida cai, quer porque a outra parte, por mais esforço que faça e mais interesse que tenha, nunca nos pode satisfazer todas as necessidades…
Temos que ser nós mesmos a encarregarmo-nos da nossa felicidade, não podemos depender exclusivamente de alguém, por muito digno que esse alguém seja. Todos nós temos o dever de ter vidas interessantes.
Repito que ninguém pode preencher por inteiro outra pessoa: a vida passa pelo amor entre duas pessoas especiais (e como passa) mas não se esgota de maneira nenhuma nesse amor. Acreditar que sim é destruir o próprio amor, por mais forte que ele seja.


Mas tudo isto leva-nos a outro problema bastante comum (o primeiro problema é pecar por excesso; o segundo é pecar por defeito): há muitas pessoas que põem a sua relação atrás de tudo na vida (ou pelo menos atrás de demasiadas coisas). Não nos iludamos: o verdadeiro amor (tal como a verdadeira amizade) tem que ocupar um lugar de grande destaque nas nossas vidas; não podemos de maneira nenhuma relegá-lo para um lugar secundário.
De fato, uma relação verdadeira de amor (ou amizade) entre duas pessoas especiais precisa de um grande e contínuo investimento, em termos de atenção, sentimento, companheirismo, interesse, diálogo, empatia, cumplicidade, sexo, atividades em comum, furar a rotina, desabafo, entreajuda, presença, preocupação, sedução, carinho, etc... Quando não há esse investimento ou esse investimento é insuficiente, o amor morre à sede…


Concluindo e resumindo, o amor não é tudo na vida mas é algo de extremamente importante.
Quem tem a sorte de o ter, se o quer manter, tem que encontrar o justo equilíbrio: deixar que o amor se torne a única coisa da nossa vida é pecar por excesso; deixar que o amor seja a última das nossas prioridades atrás de carreira, amigos, hobbies, etc. ou não tenha o seu lugar de grande destaque na nossa vida é pecar por defeito.
Qualquer uma destas posturas extremas são fatais para qualquer amor. A verdade reside no caminho do meio: in medio stat virtus.



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